Carla Lescaut (Cefas Carvalho)

Em Carla Lescaut Cefas constrói, com agilidade e objetividade, uma narrativa em que o mito bíblico da criação é sutilmente citado, principalmente, na personalidade ambígua das personagens. Vítor, tal qual Adão, não se conhece e em sua ambiguidade oscila entre o ser perfeito criado à imagem e semelhança de Deus e o ser humano comum cheio de tentações e desejos. Já a figuração feminina é inteiramente representada a dicotomia Carla/Blanca que representa respectivamente os arquétipos religiosos Eva/Maria, ou seja, Eva (Carla) sendo a representação da pecadora, sedutora, dominadora, manipuladora, transgressora e lasciva. Maria (Blanca) é a santa, a conservadora, a  ubmissa, a fiel, a esposa e a dona de casa. É preciso que você saiba que a dicotomia mítica feminina não ocorre apenas nas figuras de Eva versus Maria. Há uma outra que também de forma muito tênue, o autor nos apresenta em sua novela. É a dicotomia Eva/Lilith, essa centrada unicamente em arla. Terá Vítor, no seu papel de Adão, condições de suportar a Lilith que Eva, quer dizer, Carla esconde? Leia Carla Lescaut e se um dia a gente se encontrar, você me responde.

João Andrade - professor e escritor